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Esta quem contava era o Emilio, saudoso primo que morava em Chicago com quem fizemos grandes e memoráveis viagens de moto: Tinha acabado de trocar os pneus da minha BMW GS Paris Dakar em casa e fui dar uma voltinha pra tirar a cera. Devo ter passado muita vaselina nas bordas dos pneus pra facilitar a montagem no aro e quando já estava a umas 70 milhas/h em plena Interstate não deu outra: o pneu traseiro girou em falso no aro e arrancou o bico da câmara de ar. A moto começou a dançar na pista passando de uma faixa para outra sem a menor cerimônia e eu que tinha virado um mero passageiro tentava reduzir a velocidade pra parar no acostamento sem cair.
O motorista da enorme jamanta que vinha atrás, felizmente a uma distância segura, também devia ser um motociclista experiente. Vendo a minha situação exasperante, foi reduzindo sua velocidade fazendo o papel de um enorme escudo, e ligando seus piscas de um lado pro outro foi acompanhando o meu zig-zag. Se eu caísse no meio da estrada ele pararia com toda segurança atrás me protegendo de motoristas menos habilidosos ou mais distraídos que eventualmente poderiam me atingir por trás.
Paramos no acostamento, o ajudante do meu anjo da guarda desceu da boleia e veio ver o que havia acontecido. Enquanto eu disfarçava o tremor das pernas decorrente da descarga de adrenalina ele me falou da sua manobra protetora.
Fiquei muito agradecido e emocionado com seu gesto de solidariedade e habilidade no manejo do seu enorme caminhão.
Fica a lição pros mais jovens: Primeiro, o emocionante gesto de amor ao próximo do motorista desconhecido. Segundo, nunca lubrificar muito as bordas dos pneus quando fizer a instalação manual dos mesmos durante uma viagem (nem sempre encontramos algum borracheiro por perto) e por último seguir religiosamente a regrinha dos 2 segundos de “distância” do veículo a sua frente, pra ter tempo de alguma reação ao trafegar por este mundão.
Como médico, Dr Décio não sabe dizer se o motociclismo é uma doença hereditária ou se pegou o vírus ao andar no tanque da moto do pai, uma Triumph 500, aos 7 anos de idade, quando ele e mais três amigos, em 1949 se preparavam pra ir até a Argentina. Foi um dos fundadores da pioneira equipe de enduro “Alice no pais das trilhas”. É um motociclista de mão cheia, daqueles que, ainda hoje em dia, encara o transito de SP em sua BMW GS1250 diariamente, é também um aventureiro de primeira linha, cruzou a transamazônica em algumas ocasiões, em 1983, 1988, foi ao México, USA, Alasca, praticamente toda América do Sul…em cima de uma motocicleta. Liderou alguns passeios de eventura pela Off Rush com as KTM e ha alguns anos organiza os passeios do Caltabiano Moto Club com as BMW
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