Eu, o guidão e a estrada

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GSXR1100W esperando pela sua vez de passear…

Ao tirar a Suzuki GSXR1100W 1993 da garagem naquela manhã de sábado, eu não podia imaginar o que me esperava.  Uma viagem com uma moto antiga é uma caixa de surpresas – na maior parte das vezes um grande barato, mas não podemos nos esquecer que todos os componentes ali são antigos, sendo assim, tudo pode acontecer…  desde um simples furo no pneu, um retentor estourado, uma mangueira rachada, um carburador entupido.
Mas a pequena viagem até Ribeirão Preto com a 1100cc se tornou em uma grande curtição, a moto está em excelente forma e conseguiu me levar, não de um ponto ao outro, mas de volta a um passado muito legal, onde era apenas Eu, o guidão e a estrada…    Te convido a “tentar entender” como era esse tempo e a viajar comigo!



Só o que interessa

Sequer um relógio, daqueles mesmo indicador de horas, havia naquele painel – que de forma simples informava velocidade, rotação do motor e temperatura do líquido, nada mais, afinal de contas, quem se dispõe a sentar atrás daqueles semi-guidons não está ali pra jogar vídeo game, não é mesmo?   Através de sua grande bolha transparente, uma vista privilegiada da rodovia! – vamos combinar?  é isso o que interessa!

Entre os baixos semi-guidons e a estrada há apenas um simples e compacto painel. Absolutamente analógico, como tudo
nesta motocicleta! O ABS é você, o controle de tração… também!  Seguuuura peão!

Enquanto o vento ajudava a suportar o peso de meu tronco empurrando suavemente meu peito para cima e para trás, aliviando qualquer forma de tensão em meus braços, eu observava o pequeno painel, de inspiração nitidamente racing, com pouquíssimos comandos e informações a meu dispor sobre a moto…  Não havia muito com o que me distrair, foi quando me vi obrigado a prestar atenção na viagem em si. Apesar de estar pilotando uma motocicleta de 1100 cilindradas, viajava devagar e tive tempo de observar o  gado que pastava na beira da estrada, prestar atenção nos arredores, nas demais motos com quem compartilhava a rodovia, seus motociclistas e garupas, reparar em detalhes da motocicleta que eu conduzia, em seus ruídos e seus comportamentos nas diferentes situações, acelerações nas frenagens…

A chuva que não molha…

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Suspensão eletrônica, Controle de tração, Manoplas aquecidas,
quanta coisa… quanta coisa que talvez não sejam necessárias.

Lembrei-me então de minha Big Trail atual, uma Yamaha XT1200Z Super Ténéré 2017,  e de uma breve viagem que fiz com alguns amigos recentemente e na qual conversávamos sobre as tais Big Trail modernas…  um deles dizia nesse bate papo que quando estava em sua motocicleta “podia até chover e ele praticamente não se molhava, protegido atrás da carenagem e da grande bolha”,  e que, alem disso, tinha informação sobre a pressão dos pneus no painel, sobre distancia da próxima parada, autonomia, música que esta tocando, conseguia fazer ligações telefônicas, acessar agenda, tudo isso pelo painel da moto, com fácil acesso também a informações sobre manutenção, mapas, temperatura do líquido, da temperatura ambiente, era capaz inclusive de regular altura dos bancos, das suspensões, e até mesmo a temperatura de bancos e manoplas… mais que isso – o “piloto automático” podia assumir a função da aceleração a qualquer momento…

O sensor de bunda

E eu ali, em cima da velha “Suzukona 1100”, vento no peito – cada vez que girava a manopla direita, esticava um cabo que movia borboletas dentro de 4 enormes carburadores, elevando a rotação daquele motor bruto, com 155cv e 26 anos de idade – refletindo sobre aquela conversa entre amigos, sem ao menos saber que horas eram. Tampouco queria chegar rápido, meu desejo era de eternizar aquele momento, em que a grande Suzuki e eu interagíamos.

Se, de repente o pneu furasse, nada, nem ninguém ia me avisar, teria que usar de meus “sensores de bunda” pra descobrir. E se por acaso chovesse?  bem … eu ia me molhar.  ABS?  estava devidamente instalado em meus tendões, e quer saber? Eu confio neles. Sabe o controle de tração?  hummm acho que é tendão também – tenho alguma dificuldade com anatomia – seja lá onde for, ele funcionou até hoje, tá bem obrigado!

Piloto automático?!  Ei!  não me venha com essa história de piloto automático!  Claro que aqui não tem…  PARA TUDO! não quero ninguém fazendo isso por mim…  me deixa pelo menos pilotar a minha moto!!!!

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Para tudo!  não quero nenhum “piloto eletrônico” fazendo o serviço que é meu!!!

Pois é, fiquei pensando… será que as motos estão realmente evoluindo? Bem, isso é inegável, evoluindo estão… é uma evolução!  Mas, será que seguem em um caminho certo?  Ou, como muitas outras coisas que nos cercam, estão ficando chatas? “Politicamente corretas” demais…  – não poluem (acabaram com as dois tempos), não fazem barulho, não empinam (anti wheeling), freios não travam, rodas não patinam…. –  Alguém, em algum momento, perguntou ao motociclista o que ele desejava quando andava de moto?  Qual era a verdadeira curtição?  Ou isso tudo nos foi enfiado “goela abaixo”?

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Estão elas nos afastando do verdadeiro motociclismo?  Não que o motociclismo seja sinônimo de avacalhação, anarquia, poluição, confusão… mas o motociclismo é o simbolo máximo do equilíbrio, da integração homem e máquina…  se a coisa desequilibrar demais pro lado da tecnologia, se o homem passar a ser apenas passageiro e não tiver função vital na pilotagem, talvez perca a sua essência.

Nos últimos tempos, além de toda parafernália eletrônica que nos “ensinaram a gostar” em nossas motos, suspensão eletrônica, aquecedor disso, daquilo, controle de estabilidade, controle de tração, anti wheeling (sic!), assistente de largada, freio automático pra subida, piloto automático… vi alguns videos que me preocuparam… primeiro foi a moto da Honda e depois outra BMW que andam sozinhas, sem condutor, e não caem…  O que mais falta?  Ar condicionado?  Janelas?  Não estamos querendo ensinar nossos cães a subir em arvores, nossos gatos a latir?  A distancia entre o automóvel e a motocicleta está diminuindo demais pro meu gosto, e o carro é algo que o motociclista sempre impugnou.

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tem graça uma motocicleta que anda sozinha? que não cai?




Molhar faz parte…

E eu lá, passando por Pirassununga, SP.  Acelerava o motorzão Suzuki 1100, sentindo o ar sendo sugado pelos filtros, passando pelas vísceras de minha moto, podia perceber, sentir, a mistura sendo transformada em força logo ali, embaixo de minhas pernas, sendo seu resultado sentido em forma de deslocamento e ouvido em forma de rugido, isso em uma viagem que mais parecia uma transa de tão legal que estava, aquela conversa de a “bolha não permite que eu me molhe quando chove” ficou martelando na minha cabeça!

Será que é mesmo por ai?

Afinal de contas…  molhar faz parte do motociclismo!  ou não faz?


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9 thoughts on “Eu, o guidão e a estrada

  • Parabéns pela matéria do passeio com a Suzuki, muito bom, fica aí a reflexão sobre as evolução tecnológica das motocicletas, como voce bem relata acima: Da aqui a pouco, teremos Ar condicionado, Janelas, etc………????!!!!, pois é dificil frear a evolução, mas quem sabe as montadoras de motocicletas, não fabriquem tambem em suas linhas as motocicletas Raíz!!!!!!!

    Um grande Abraço
    A.Luppi
    Atibaia – SP – Brasil

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  • Parabéns pela matéria do passeio com a Suzuki, muito bom, fica aí a reflexão sobre as evolução tecnológica das motocicletas, como voce bem relata acima: Da aqui a pouco, teremos Ar condicionado, Janelas, etc………????!!!!, pois é dificil frear a evolução, mas quem sabe as montadoras de motocicletas, não fabriquem tambem em suas linhas as motocicletas Raíz!!!!!!!

    Um grande Abraço
    A.Luppi
    Atibaia – SP – Brasil

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  • Parabéns pela matéria do passeio com a Suzuki, muito bom, fica aí a reflexão sobre as evolução tecnológica das motocicletas, como voce bem relata acima: Da aqui a pouco, teremos Ar condicionado, Janelas, etc………????!!!!, pois é dificil frear a evolução, mas quem sabe as montadoras de motocicletas, não fabriquem tambem em suas linhas as motocicletas Raíz!!!!!!!

    Um grande Abraço
    A.Luppi
    Atibaia – SP – Brasil

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  • Saúde & Paz. Parabéns pelas 2 matérias. Faz realmente refletir, como tenho uma CG87 e uma Virago 535 2001…. tudo muiiiito analógico, fico a pensar: enquanto existir, vou usar. Pretendo mudar de custon para big trail. Este lançamento da Royal Enfield – Himalayan, apesar das coisas modernas; seria o que o Augusto disse acima: Motocicletas Raíz. Está brilhando ante meus olhos!!!!!

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  • Saúde & Paz. Parabéns pelas 2 matérias. Faz realmente refletir, como tenho uma CG87 e uma Virago 535 2001…. tudo muiiiito analógico, fico a pensar: enquanto existir, vou usar. Pretendo mudar de custon para big trail. Este lançamento da Royal Enfield – Himalayan, apesar das coisas modernas; seria o que o Augusto disse acima: Motocicletas Raíz. Está brilhando ante meus olhos!!!!!

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  • Saúde & Paz. Parabéns pelas 2 matérias. Faz realmente refletir, como tenho uma CG87 e uma Virago 535 2001…. tudo muiiiito analógico, fico a pensar: enquanto existir, vou usar. Pretendo mudar de custon para big trail. Este lançamento da Royal Enfield – Himalayan, apesar das coisas modernas; seria o que o Augusto disse acima: Motocicletas Raíz. Está brilhando ante meus olhos!!!!!

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  • Show de matéria. Muito legal pegar uma clássica e botar na estrada. Parada estraga. Foi feita pra rodar.

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  • Show de matéria. Muito legal pegar uma clássica e botar na estrada. Parada estraga. Foi feita pra rodar.

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  • Show de matéria. Muito legal pegar uma clássica e botar na estrada. Parada estraga. Foi feita pra rodar.

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