Honda NX 650 Dominator, ela chegou na hora errada
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1992 foi um ano bem estranho para a indústria de motocicleta. As duas maiores marcas do Brasil, Honda e Yamaha, tinham somente 22 modelos à disposição dos consumidores e o total de vendas passou pouca coisa de 86 mil unidades, 86.194 motos para ser exato. Só para comparar, em 2019, o line-up da Honda e Yamaha soma 42 modelos e o número de vendas chegou perto de 1.2 milhões.
Boa parte desse péssimo desempenho em 1992 era fruto de uma crise que assolou o Brasil e a instabilidade política – que culminou com o impeachment do presidente Collor. Naquele turbilhão de notícias ruins, havia uma moto que enchia meus olhos de curiosidade, a Honda Dominator 650. Folheando as revistas curtia a ficha técnica do modelo e aquele visual moderno e, para mim, arrebatador. Havia ainda a ligação com as aventuras por conta da participação do modelo no badalado Camel Trophy – inclusive no vizinho Peru – e até já escrevi sobre isso, confira aqui. Passadas quase três décadas chegou a vez de conhecer e rodar com a Dominator e voltar no túnel do tempo. Como ela é desconhecida de muita gente, te convido a dar uma volta. Vamos nessa?

Chegou a hora
Para começar o grande atrativo do modelo: aquela fórmula da Honda de tornar qualquer moto uma “velha amiga” na primeira vez que gente pilota. Vou explicar melhor, parece que a moto é sua faz um tempão. Os braços alcançam os comandos de forma natural enquanto os olhos percorrem o painel e suas cinco luzes de aviso – até o cavalete lateral abaixado ele indica. Já os botões e comandos remetem à nossa velha amiga Sahara, outra representante da comportada família NX.
Basta abrir a torneira de combustível, acionar o afogador e apertar o botão de partida elétrica para escutar aquele zumbido clássico do motor de um cilindro de 644 cm³ de capacidade cúbica. O propulsor usa quatro válvulas e é alimentado por um carburador Keihin de 40 mm de venturi – nossa, há quanto tempo não uso esse termo kkkk. O som forte e encorpado do motor é ampliado pelas duas saídas de escape que conferem um ar sofisticado para o modelo da Honda.

O motor oferece 46 cavalos, parece pouco, mas o destaque fica para o torque de 5,8 kgf.m a 5.000 giros. Com isso, depois de aquecido é fácil curtir o bom equilíbrio do modelo que tem suspensão macia e confortável. O curso na dianteira é de 220 mm enquanto a traseira chega a 195 mm. O destaque fica para o perfeito casamento da parte ciclística com a motorização. Dócil e obediente – característica da linha NX – a Dominator atinge a velocidade máxima de 160 km/h – segundo medições publicadas na revista Moto Show (de setembro de 1988) assinada pelo meu amigo Roberto Agresti.
Por falar em revista, uma curiosidade: tanto a Moto Show quanto a Motor Sport publicaram testes feitos no exterior e declararam que o tanque tinha capacidade para 13 litros, na verdade a capacidade é de 16 litros.
Confesso que rodando com essa velha senhora, tentei ser um gentil cavalheiro. Afinal o modelo foi fabricando em 1992 embora ostente saúde de ferro, não é elegante abusar. Vale usar o câmbio de cinco marchas e sentir o motor empurrando os 152 kg (a seco). A postura é extremamente confortável.

Tem coragem?
Quem tiver coragem de ousar nas estradas de terra poderá contar com a altura livre do solo de quase 25 centímetros e os pneus mistos, aro 17 na traseira e 21 na dianteira. A fórmula é bem legal e remete as trails “de verdade” dos anos 80 e 90. Por falar em trail, a Dominator era uma opção mais civilizada ante a valente Yamaha XT 600 Ténéré que era vendida naquele ano.
Falando com o Diego Rosa, sobre a Dominator da coleção do Motos Classicas 80, ele afirmou que gostaria que ela tivesse um pouco mais de vocação aventureira “mais espaço para o piloto e garupa, maior autonomia, mais proteção aerodinâmica”. Apesar disso ele elogiou a roda dianteira (aro 21) e a confortável posição de pilotagem.

Passados quase 30 anos da chegada da Dominator ao Brasil, ela ainda é uma ilustre desconhecida entre os mais jovens. Ao sair com ela aqui nas ruas da cidade muita gente pergunta se a moto é lançamento?! Por fim vem a frase: “nunca vi, tá novinha né?” é o comentário ao saber que o modelo é “das antigas”.
Se você quiser saber mais sobre a Dominator, baixe o Manual do Proprietário (clique aqui) , e confira todas as medidas e características desse modelo que marcou época, em um período bem amargo da indústria de moto no Brasil.
Catalogo de peças e Manual de Serviços desta moto também estão disponíveis na nossa seção de downloads.
Ótimo relembrar a Dominator, uma das mais belas motos que a Honda já fez naqueles anos 90. Sei de três aqui em São Carlos, duas vermelhas/preto, e uma toda preta. Ainda rodam pra lá e pra cá. XT 600e custando bem menos, encalhou a Dominator. Mas é uma moto maravilhosa. Parabéns pela matéria.
Cícero, falando de monociclíndrica com bom torque em baixa, vou gostar com certeza… me lembro de ter visto algumas rodando por aí, mas são mesmo raras e esquecidas… boas motos.