A Dama de Ferro e sua paixão por motos
Na semana que comemoramos o Dia Internacional das Mulheres, conheça uma história de aventura, dedicação, vanguarda e, claro, motocicletas
A profissão de jornalista oferece diversas surpresas e permite conhecer pessoas com ótimas histórias e relatos. Uma dessas surpresas aconteceu na semana passada ao entrevistar a dona Mila, fundadora da Mila Moto, concessionária Honda de Jundiaí (SP), seu relato seria usado em uma matéria do Portal G1 sobre os 42 anos da concessionária. Mal sabia que aquele curto bate papo, cerca de uma hora, revelaria muitas aventuras, desafios e a paixão que está por trás dessa concessionária. Mas antes de falar da concessionária, quero relatar algumas aventuras da dona Mila, uma mulher a frente do seu tempo.
No final dos anos 1970 ela fazia curso de paraquedismo, isso mesmo, essa doce senhora, que você vê na foto abaixo, saltava de paraquedas! Para saltar sozinha, precisava terminar o curso e tirar o “brevê”, enfim chegou o dia da formatura e seu primeiro salto solo. “O Wilson assumiu o comando do Paulistinha, aquele pequeno avião de treinamento, e nós decolamos. Ganhamos altura e, quando olhei para o chão, no local que deveria descer com o paraquedas, vi o símbolo do X, ou seja, fui reprovada na prova teórica – na verdade, deixei uma pergunta em branco. O Wilson pousou o avião, voltei lá, respondi a pergunta, fui aprovada, decolamos e saltei… Foi inesquecível e o primeiro de muitos”. Essa foi uma das muitas aventuras daquela jovem que em pouco tempo teria pela frente seu maior desafio: comandar uma concessionária.
A primeira moto vendida pela Mila Moto foi uma Honda CG 125 azul. “Lembro da nossa alegria ao tirar a Nota Fiscal – que era preenchida à caneta, com papel carbono e aquele enorme bloco”
“Sempre gostei de motos, tinha espírito empreendedor sonhava montar uma concessionária”. O sonho se tornou realidade, graças a ligação do casal com a aviação. Lembra do Wilson, o piloto do Paulistinha que levou dona Mila para seu primeiro salto? Pois era seu marido e, veja que coincidência: “Ele era comandante da VASP, num voo para Manaus, conheceu o presidente da Honda, conversaram sobre a nossa ligação com as motos e fomos convidados a montar uma concessionária, claro, topamos o desafio”.
O cotidiano de uma concessionária exige muito relacionamento com pessoas e forte conhecimento dos produtos. Vale lembrar que o mercado de motos era bastante restrito em modelos e o número de unidades produzidas no Brasil era pequeno. Em 1980, ano de inauguração da concessionária, Honda e Yamaha produziram juntas, apenas 125 mil unidades. Em 2021, esse número superou mais de um milhão e cem mil unidades. Ela falou também das poucas opções de motos. “Tínhamos apenas a linha 125 com a CG, a ML e a Turuna depois chegou a CB 400, uma grande novidade”.
Reunião via rádio amador
Mila, que na verdade é um apelido de infância, seu nome é Maria Esther Schievano, ao assumir a concessionária tinha muitas obrigações como vender e comprar motos, administrar o estoque de peças, cuidar da oficina e dos funcionários e ainda se relacionar com a diretoria da Honda. Todos os dias ela usava o meio de comunicação mais rápido para falar com Wilson, o radio amador. Via rádio atualizava o marido (e sócio na concessionária) sobre as novidades e as tomadas de decisão eram feitas naquelas circunstâncias. Chega a ser curioso imaginar a cena do comandante falando pelo rádio sobre modelos, peças e valores de motos na cabine de um Boeing 727 – uma das aeronaves que pilotava.
Os anos passaram “voando”, o rádio amador deixou de ser necessário assim como o bloco de Notas Fiscais ficou apenas na memória e no arquivo morto da empresa. Para preservar a história, na loja de Jundiaí, alguns modelos são expostos e remetem a um período romântico da história do motociclismo brasileiro e das concessionárias. Vale lembrar que já falamos sobre concessionárias legais no Motos Clássicas 80 mostrando a trajetória da AGE Moto e outras lojas importantes do Brasil (leia aqui).
A Honda CB 360 (foto acima), com seu motor de dois cilindros paralelos (357,00 cc) e apenas 34 cavalos, é destaque por conta da sua raridade. Lá também repousa uma cobiçada Honda CB 450, com menos de 5.000 km rodados (foto abaixo), além de dois exemplares da CG 125, uma 1977 e outra 1978. Sempre acho legal quando entro em alguma concessionária e vejo modelos antigos bem cuidados, como aconteceu em Guaxupé (MG). Lá me deparei com uma Yamaha DT 180 que rodou menos de 4.000 km, a história dessa DT pode ser conferida aqui.
Guardar, cuidar e expor uma raridade é sinal de respeito com o nosso motociclismo. No caso da Mila Moto é ainda mais especial por conta da história do casal Mila e Wilson que se tornaram DONOS de concessionária e não apenas vendedores deste veículo. “Quando eu falo, vejo e ouço uma moto meus olhos brilham, eu adoro” conta dona Mila que, apesar de toda experiência, afirma “todo dia aprendo algo com os clientes, colaboradores e até com meus netos…”. A paixão pelas motos passou para outros integrantes da família Schievano, dona Mila, junto com o filho Doca e os netos, segue dirigindo a concessionária. Ah, você pode estar se perguntando se ela anda de moto? A resposta é sim!
fotos Fabiano Godoy e arquivo pessoal
Jornalista Especializado em veículos e mobilidade. Editou a revista Duas Rodas, foi colunista do portal UOL e criou publicações como Revista Ordem de Serviço e edita atualmente a revista MotoEscola.
Que historia legal…. Parabens ao casal, muita prosperidade e saude para cuidar desse legado incrivel
Belíssima história. Show mesmo.
Inspirador conhecer histórias como essa, da Mila paraquedista e seu piloto. Parabéns por realizar o sonho em torno da moto. Dentre tantas motos que pude ter e rodar até hoje, a CB450DX permanece com carinho na memoria.
Parabéns pela matéria,fui amigo do Wilson,e acompanhei toda a tragetoria da Mila.
Mudei há pouco paran Itupeva e no condominio onde moro os motociclistas (quase todos com motos comprados na Mila Motos) diziam que eu precisava conhecer a Mila Motos. E trocar minha Suzuki por uma Honda! Mas o curioso é que Jundiai também é o berço da Suzuki!
Tive o prazer de conhecer o casal logo após abrirem a revenda Honda aqui em Jundiaí. Eram excepcionais. Hoje a revenda é comandada pelo filho deles, tem filiais e não pára de crescer. De fato, enxergaram longe.
Eu tinha um escritorio de contabilidade em Indaiatuba, apareceu lá uma pessoa simpatica e piloto de avião, o sr.Wilson Schievano,peindo para eu fazer uma abertura de uma agencia de motos em Jundiai.Fiz todo a documentação, e depois disse a ele procurar um contador em Jundiai, para dar continuidade na movimentação da empresa.Os anos se passaram e nunca mais tive contanto com o Sr.Wilson acredito que ele morava em Indaiatuba,vizinha de Jundiai.Tive escritorio de 1973 a 1998,25 anos, quando vendi o escritório de contabilidade em maio de 1998.