A revista chegou?

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Diego Rosa:

Na quarta ou quinta vez que eu chegava na banca pra comprar a Revista Duas Rodas, ficava até meio sem jeito de repetir a pergunta: – a Duas Rodas desse mês chegou?

O jornaleiro, que acompanhava com os olhos o garoto chegando, estacionando sua Mobylette em frente a banca e caminhando timidamente entre as inúmeras prateleiras, procurando com olhar atento a “revista de moto”, por vezes oferecia a edição do mês passado, ou a MotoShow (que eu adorava também). Mas já sabia da resposta: – essa eu já tenho! Antes de me despedir, costumeiramente perguntava: – Será que amanhã chega?

Isso se repetia mês a mês, pois no interior do Estado, as bancas demoravam mais até serem abastecidas, e a preferência das transportadoras eram os jornais diários e as revistas semanais, como Exame e Veja, enquanto que as nossas queridas revistas de moto ficavam em segundo plano.

Quando chegava era uma euforia! Comprava, corria de volta pra casa com a Mobylette, ia pro quarto e, lentamente abria a devorava a revista.

A coleção de Duas Rodas e outras publicações na garagem do Motos Clássicas, ao lado, uma banca de jornal antiga

Tinha meu ritual de leitura: – primeiro os testes, – depois as aventuras. Depois de reler testes e aventuras algumas vezes, me deliciava com as páginas sobre o Paris Dakar ou o mundial de Motovelocidade.

Lia atentamente os anúncios classificados, gostava muito da seção faça em casa. – enfim, devorava aquela revista toda.

Que infelizmente terminava em poucas horas, talvez dias, e batia aquela ansiedade pra chegada da próxima! Que ritual mágico.

O volume de informações que aquele adolescente de 13 anos absorvia era grande, aprendia a melhor forma de usar os freios, como limpar carburador, como trocar óleo, observava as fotos das aventuras, belas praias, mulheres, motos, estradas ruins… Me imaginava um dia ali naquele meio, fazendo a minha própria aventura.

Sentava na garupa do Tite Simões, do Gabriel Marazzi, do Josias Silveira e era como se eu tivesse pilotando junto com eles aquelas motos maravilhosas!

Cicero Lima:

Eu e o Diego, resolvemos escrever esse artigo a “quatro mãos”, ou seja, cada um contando um pouco da sua história com a revista. Assim como ele eu era fascinado pela Duas Rodas e comprava todos os meses. Mas a minha fixação era a seção Aventura. Nomes como o Gau (João Gonçalves Filho) que enfrentou a BR 230 sozinho da Harley nos anos de 1970 eram meus heróis e também sonhava, um dia, ter uma aventura publicada na revista.

Junto com o amigo Marco Aurélio Ponzio finalmente partimos para a nossa primeira aventura. Com duas Agrales, seguimos para o Sul e chegamos até o Uruguai. Sem capa de chuva, de tênis e capacete aberto, encaramos a BR 116 (a temida estrada da morte) e conheci o litoral de Santa Catarina, chegamos ao Chui e atravessamos a fronteira.

Na volta, mandei as fotos e o relato da viagem para a redação da Duas Rodas e segui a minha vida… Estudava jornalismo na FIAM (Zona Sul de São Paulo) onde comprava a minha revista. Lembro quando entrei na banca e vi a chamada na capa com a nossa viagem. FOI MUITA EMOÇÃO E ORGULHO ver as fotos e o relato da viagem. Mostrei para os colegas da faculdade e fiquei famoso, eu era um “aventureiro de verdade”.

Capa da edição com a chamada “Roteiro do Ouro” com o relato da nossa aventura até o uruguai

Com o passar do tempo, coisas melhores aconteceram. Como gostava de escrever e estudava jornalismo, fui convidado pelo Roberto Araújo (hoje um grande amigo) para fazer alguns free-las – serviços esporádicos de cobertura de eventos. Viajei o Brasil para cobrir os brasileiros de Motocross e o Mundial da modalidade. Era incrível dizer para as pessoas que estava lá pela Duas Rodas.

Por fim, em 1997, entrei na revista como repórter, respondendo ao editor Sérgio Branco e ao Josias Silveira. Com a saída do Branco, no começo dos anos 2.000 assumi a edição da minha querida Duas Rodas.

Por mais de uma década, a cada mês eu cuidava das capas e das matérias e tinha especial apreço pela aventura. Muitos viajantes dormiram na minhas casa e são amigos até hoje.

Sai da revista em 2015 e agora, no começo desse ano, retornei para cuidar da mídias digitais que é a principal atividade da Duas Rodas. Mesmo assim, a cada mês a revista é impressa e, quando recebo o exemplar, ainda sinto o mesmo orgulho e carinho. A cada matéria que publicamos (o Leandro Mello é o editor da revista) lembro dos leitores que merecem o nosso carinho e cuidado.

Por fim, minha vida profissional se misturou à revista Duas Rodas e o mundo das motos. Tive muita sorte de trabalhar com esse setor e acumular muitos quilometros rodados e o principal os amigos que a motocicleta e a revista me trouxeram para a vida toda, entre eles o Diego Rosa que foi nosso piloto de testes e também colaborador por muito anos…

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Nossas Agrale no Farol de Santa Marta (à esq.) e acampando no Uruguai, sempre digo: “uma viagem pode mudar a sua vida” e mudou a minha…


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5 comentários sobre “A revista chegou?

  • Grandes recordações. Também era um leitor assíduo da Duas Rodas e todas as congêneres que vieram depois e ficamos inspirados para grandes viagens pelas matérias heroicas e espetaculares dos nossos grandes mestres.

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  • Tbm tinha 13 anos quando a motocicleta entrou na hihistória da minha vida!
    E ver vcs contarem sobre a ansiedade de procurar na banca a “revista de moto ” e depois todo o ritual de ler ( e reler diversas vezes ) até parece que me espionaram naqueles tempos mágicos de adolescência !
    E, claro, a revista Duas Rodas sempre esteve presente tbm !
    Assim como todas as outras que sempre chegavam atrasadas ou nem chegavam , para desespero nosso, pois morar no interior tinha mesmo destas situações.
    Mas a paixão pelas motos e o hábito de ler sobre elas, creio que será para sempre !

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  • Nossa, bem eu. O tempo todo na banca de revistas. De vez em quando assinava, as vezes ganhava assinatura de presente, mas até hoje, adoro ir na banca de revistas ver de tudo um pouco. Um lugar sem igual para quem, como nós, adoramos leitura. Ótima lembrança.

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  • Vejo e lembro que todos fomos jovens na década de 80 e adorávamos as motos,que eram tão poucos naqueles tempos.CG,RX,DT,CB,TURUNA,XL,ML…e só,de vez em quando alguma”grandona” importada.As revistas nos ajudavam a sonhar em pilotar uma grande cilindrada,fazer a manutenção e planejar alguma aventura,nem que fosse 100 km até o litoral.
    Bons tempos,boas lembranças.

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  • Ufa, voltou hoje(21/01/2023)para minhas mãos, a Duas Rodas de 1978, número 42, teste da Yamaha RD 400.

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