CUIDADO ! Uma clássica na pista.
O Território Sagrado.
A pista de um autódromo é um lugar incrível. Hoje em dia os “track days” se popularizaram, e isso é bom, assim (algumas) pessoas deixam de correr (tanto) nas rodovias e passam a usar os circuitos para despejar sua adrenalina e a potencia de seus motores, mas nem sempre foi assim. Me lembro quando entrei em um circuito pela primeira vez, há cerca de 20 anos, era tudo muito restrito, eram apenas os pilotos que entravam ali. Um território sagrado!
Naquela ocasião, instantaneamente, em minha memoria vieram todos que ali correram antes, no caso minha primeira vez foi o extinto e espetacular circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Lembrei de Doohan, Rossi, Barros as corridas ainda eram com motos de motores dois tempos. Me lembrei também dos mitos da Formula 1, andando por aqueles mesmos boxes, tudo sagrado!
Não tinha limites.
Outra lembrança daquele “batismo” foi que “podia acelerar tudo que quisesse” não havia ninguém ali pra puxar orelha, nem multar, nem reclamar. Não haviam limites, o limite passava a ser o instinto de sobrevivência e o juízo. Na área de boxes, é claro, havia de respeitar os limites. Me diverti muitas vezes em circuitos, a convite, fazendo matérias, competindo em algumas provas secundárias, fazendo cursos, com muito aprendizado e diversão.
As clássicas na pista.
Em 2014, tive uma experiência ruim, durante uma prova light, uma brincadeira na realidade, durante o evento Pé na Tábua na cidade de Barra Bonita, SP, havia a exposição, e o Motos Clássicas 80 estava presente, houveram também algumas corridas no kartodromo que fica bem em frente ao parque de exposições, eram separadas por categoria e muito organizadas. Me inscrevi em duas categorias, em uma iria correr com a Vespa PX200 e na outra com a XL250R.
Empolgado com os treinos
No sábado de treinos cronometrados estava lá, me sentia a vontade, pois já havia corrido uma prova de SuperMotard em 2004 naquela mesma pista (uma etapa do campeonato brasileiro, com uma Husqvarna 510cc) e lembrava bem do traçado. Primeiro foi a vez das vespas, e eu, nos treinos me sobressai, classificando com folga na frente do segundo colocado, muito embora com os pneus originais de fabrica com 28 anos de idade naquela época. Me empolguei, o próximo treino era da categoria superior e eu iria com a XL250R, nessa mesma categoria haviam umas CB450, 400 e outras que não me recordo, pensei, vai ser fácil, pois a pista travada favorece as trail. Tudo começou bem, até que depois de umas tantas voltas cronometradas, em uma curva, a frente saiu de uma só vez e eu voei por cima da motocicleta – aquele típico tombo que vemos nas corridas de MotoGP no qual o piloto é catapultado por cima da moto, chamam de “High Side” – descobri, esse tipo é o mais dolorido, pois na queda, os ossos não costumam resistir. Foi assim com a minha clavícula direita, mas por sorte a velha XL250R pouco sofreu, apenas espelho, manete, essas coisas simples de arrumar.
Passaram-se 6 anos
Na semana passada, enquanto Cicero Lima e eu fazíamos uma matéria para a revista Duas Rodas com a Yamaha GTS1000 do acervo da Motos Clássicas 80, na companhia do amigo e piloto Leandro Melo, elegemos a pista do “Haras Tuiuti” como cenário ideal, para teste da motocicleta e fotos. Foi a volta do Diego para a pista com uma veterana, e enfim, a origem da matéria que você esta lendo…
As mochilas do motoqueiro
Sempre ouvi dizer que, quando começamos a nossa “carreira” em cima de uma moto, recebemos duas mochilas, uma cheia de sorte e a outra vazia de experiência. Com a quilometragem, a da sorte vai sendo esvaziada enquanto a da experiencia se enche. Em um determinado momento haverá apenas experiência lá dentro… este é um momento delicado. Dizem que o bom mergulhador é o que morre afogado, não é mesmo?! mas a experiência, dessa vez, trouxe bons frutos. (leia “As Duas Mochilas do Motociclista” clicando aqui)
As lições da pista
Primeira coisa que tinha em mente quando coloquei a GTS1000 na pista nesse ultimo sábado era que, aquela moto é raríssima no mundo inteiro, as peças de reposição (principalmente carenagens) não são raras, elas simplesmente não existem, simples assim. A moto inteirinha carenada – cair não era uma opção.
Apesar de estar absolutamente revisada, fluido do radiador, fluidos de freio, pastilhas, óleo do motor recém trocado, pneus novos (fabricação ano 2018), calibrados, suspensões e rolamentos revisados, toda lubrificada… quem me garante que um flexível de freio não romperia em uma frenagem “caprichada” no final da reta? portanto, nada de frenagens absurdas. Há como desfrutar da moto, sentir toda sua performance, elevar giros até próximo da faixa vermelha sem problemas com o motor aquecido, mas sem forcar nenhum componente demasiadamente, pois qualquer falha poderia resultar em um acidente, por menor que seja, estragando a moto.
A fadiga surgiu.
Depois de dar umas dez ou doze voltas naquela gostosa pista, num sábado nublado de temperatura amena, os primeiros sinais de cansaço surgiram, certamente as costas do piloto já sentiam o peso da idade, mas na realidade quem primeiro deu sinal de fadiga foi o freio traseiro, não suportando a pressão, ainda que controlada, da pista e super aqueceu. Nada grave, apenas sossegar um pouco a mão direita, dar mais umas voltas tranquilas, e ele voltou ao normal.
ABS fez estardalhaço
O freio ABS que equipa a Yamaha GTS1000 tem exatos 28 anos neste momento, é da primeira geração.Nas motos modernas a atuação é praticamente imperceptível, mas os daquela geração eram bem truculentos quando entravam em funcionamento. No final das retas havia que se acostumar, pois o ABS do freio traseiro insistia em entrar cedo demais, nada preocupante, apenas uma característica, bom pra lembrar que se trata de uma moto estilo Touring, com 70.000 km rodados e quase 30 anos no lombo.
A grande lição
A dose vai ser repetida, a experiência foi gratificante, já estamos os três, Leandro Melo, Cícero Lima e eu, com comichão pra por a Suzuki GSXR1100W na pista e quem sabe mais pra frente outras esportivas de nosso acervo. Importante manter em mente que, quando colocamos as clássicas na pista, as motos precisam ser respeitadas. Diferentemente do que acontece com as motos modernas, quando “sobra moto e falta piloto”, no caso das clássicas há de se haver a sensibilidade de encontrar o limite da moto e respeita-lo, pois possivelmente ele aparecerá antes seu limite.
Ainda não assistiu?
Então não demora – clica ai embaixo e confere o video que publicamos em parceria com a Revista Duas Rodas e o Piloto Leandro Melo – com imagens de Mario Villaescusa.
Aos 51 anos, Diego completa 38 intensos anos de motociclismo! Colecionador detalhista e aficionado por motos clássicas, principalmente as dos anos 1980. Ultrapassando a marca do 1.000.000 de km rodados – Seja como piloto de testes da revista Duas Rodas, aventurando-se pelo mundo em viagens épicas e solitárias em motos super-esportivas ou quebrando recordes de distancia e resistência sobre a motocicleta onde conquistou 18 certificados internacionais “IronButt”.
Ótima matéria. Muito legal mesmo.
obrigado!