A invasão ao templo!
Raul escreveu a letra de Metamorfose Ambulante quando tinha apenas 14 anos. |
São poucos os espaços onde o cara consegue, efetivamente, ficar sozinho. Desconectar-se do mundo!
Pra quem pratica o mergulho autônomo – aquela hora que passamos ali embaixo da água, ouvindo a própria respiração, admirando a vida marinha e brincando com a diferente atuação da gravidade sobre o corpo – sabe o que estou falando, aquele é um momento intimo, de introspecção!
Embora você esteja mergulhando em um grupo de 2 ou mais pessoas, o vidro de sua mascara, a água que invade seus ouvidos e a dificuldade de comunicação te colocam nessa tão especial situação!
Na moto a situação é muito parecida…
…quando pegamos estrada pra valer, ficamos 3, 4, 5 ou muito mais horas ali, confinados ao nosso capacete, admirando o meio externo, interagindo com ele mas, em uma introspecção profunda – por ter a comunicação muito limitada – pois nosso vocabulário se resume a alguns poucos sinais.
A esses lugares especiais, chamo de “templos”.
O capacete é o mais incrível dos templos, pois – quem já fez uma viagem longa sabe o que estou dizendo – ali dentro, aparecem amigos, desafetos, festas, lembranças, risos e choro. O espaço reduzido parece infinito, pois ao mesmo tempo somos visitados por uma multidão, pessoas que conhecemos, que passaram por nossas vidas.
Ali destilamos também os anseios da viagem, dando espaço pro campo da imaginação, por vezes nos irritamos, xingando “pra dentro” o motorista que te fechava solenemente, ali cantarolamos musicas antigas sem ter ninguém pra se importar com a qualidade, mais ou menos como Milton Nascimento descreve com sabedoria em Nos Bailes da Vida: “não importando se quem pagou quis ouvir…”
Talvez por isso, as viagens de moto recarreguem as nossas pilhas com tamanha velocidade, uma especie de tratamento intensivo.
Mas ai apareceram os comunicadores, e eu fui o primeiro a levantar a mão e espernear: Comigo não! Não quero essa porcaria entrando em meu templo. Não quero ouvir o celular tocar, nem a esposa reclamar da curva mal feita, não quero saber com tamanha facilidade que meu companheiro de viagem na moto ao lado quer ir ao banheiro… fui contra, contra, contra!
Os anos se passaram e aos poucos fui sentindo a necessidade de ter uma traquitana dessas, eventualmente bater um papo com minha esposa enquanto viajo, ouvir aquele MP3 bem selecionadinho durante a jornada, se não atender, pelo menos saber quem era ao telefone e ter a opção de atender-lo ou não, até mesmo conversar por telefone com alguém pra espantar o sono nas longas retas do pantanal mato-grossense.
Raul já dizia “prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo….” pois é, a engenhoca apareceu em minha casa um tempo atrás, trazida pelos correios.
Claro que a instalação foi feita nos capacetes que usamos pra viajar com a moto moderna, deixando reservado às voltinhas pela cidade com as motos antigas, o velho capacete e as repetidas, truncadas e incompletas cantaroladas que servem de pano de fundo pros passeios.
Confesso que gostei demais do resultado, sem duvida, devo assumir: o templo foi definitivamente invadido – mas foi uma invasão amigável, sem estupros nem quebra das divindades ali presentes.
O prazer de ouvir um solo de Led em “Stairway to Heaven” com boa qualidade enquanto acelero a moto é enorme! As conversas com a esposa continuaram praticamente as mesmas que fazíamos através de sinais, ela também curte seu próprio templo e suas musicas – Soube respeitar e não ficar “futricando” dentro do meu capacete… também respeitei seu espaço.
Com isso vieram carregadores, cabos e toda uma parafernália que é descarregada a cada noite no hotel e carregada novamente na manhã seguinte, mas tá bom, não há ganho sem perda! Toca-se a vida pra frente e a viagem segue seu rumo…
…and she´s buying the stairway to heaven.
Aos 51 anos, Diego completa 38 intensos anos de motociclismo! Colecionador detalhista e aficionado por motos clássicas, principalmente as dos anos 1980. Ultrapassando a marca do 1.000.000 de km rodados – Seja como piloto de testes da revista Duas Rodas, aventurando-se pelo mundo em viagens épicas e solitárias em motos super-esportivas ou quebrando recordes de distancia e resistência sobre a motocicleta onde conquistou 18 certificados internacionais “IronButt”.
…rsss … e pensar que antigamente, usava um radinho de pilha AM/FM, com fones de ouvido devidamente 'camuflados" dentro do isopor e espuma do meu Induma San Marino…. mais tarde o tal radinho de pilha foi substituído por um moderno WALKMAN, o duro era trocar as duas ou três fitas K-7 de 90 minutos….kkkk
Bons tempos….
…rsss … e pensar que antigamente, usava um radinho de pilha AM/FM, com fones de ouvido devidamente 'camuflados" dentro do isopor e espuma do meu Induma San Marino…. mais tarde o tal radinho de pilha foi substituído por um moderno WALKMAN, o duro era trocar as duas ou três fitas K-7 de 90 minutos….kkkk
Bons tempos….
…rsss … e pensar que antigamente, usava um radinho de pilha AM/FM, com fones de ouvido devidamente 'camuflados" dentro do isopor e espuma do meu Induma San Marino…. mais tarde o tal radinho de pilha foi substituído por um moderno WALKMAN, o duro era trocar as duas ou três fitas K-7 de 90 minutos….kkkk
Bons tempos….
Caramba nem ando de moto mas me deparei com esse texto agora e que texto inspirador! Para tudo, para a vida em si, para o mundo atual, e pessoalmente inspirador para mim também, parece até ter sido escrito agora! Além de muito bem escrito tb! Agradeço ao autor. Irei até divulgar por aí. Valeu!
Legal Daniel, obrigado! Em um mundo de “influenciadores” é um prazer inspirar. grande abraço, curta o seu templo.