DUAS GRANDES BIG TRAIL

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 Na década de 90 tive a oportunidade e o imenso prazer de andar com dois ícones do mundo das big trail da época.
A primeira, uma Yamaha XT 600 Tenere, adquirida “0” km. Não me lembro do valor da compra nem da venda, mas a moto era o sonho de consumo da maioria dos motociclistas brasileiros que gostavam de uma longa viagem sem se preocupar com o tipo ou estado das estradas.  Com ela rodei 70.000 km por nossas estradas.
A segunda, uma Kawazaki 650 KLR usada, comprada em Chicago com apenas 3.000 milhas por, acreditem, US$ 1.400 e vendida depois de 16.000 milhas por US$ 1.100 em Anchorage, no Alaska. Deve ser por isso que esqueci do preço da Tenere, pra não ficar mais nervoso.

 Tive a satisfação de viajar com as duas motos na mesma época, embora em estradas e climas diferentes e deu bem para compará-las. A Yamaha foi utilizada por um período e quilometragem bem maior que a Kawazaki e num ritmo um pouco mais forte. Na época a minha moto era a menor da turma então, pra poder acompanhar a galera, a Tenere tinha que mostrar serviço. Já a Kawazaki rodou menos, mas em condições de carga muito superiores. Foram viagens pelos Estados Unidos, México e Panamá sempre com garupa e carga máxima.

 A Yamaha, depois de 70.000 km, onde só foram trocados os itens de desgaste normais como pastilhas de freio e relação de transmissão (corrente, coroa e pinhão) quando foi vendida para comprar uma TDM 850 estava começando ficar boa.
A Kawazaki, no fim de sua última viagem com a gente, e muito provavelmente por trafegar com excesso de peso chegou ao Alaska com a suspensão traseira só na mola. O amortecedor perdeu totalmente sua função, o que não prejudicou em nada a viagem. Era até divertido fazer umas graças com a moto nos pequenos deslocamentos no fim da viagem. Foi a primeira e única vez que pilotei uma moto sem amortecedor traseiro. Pode ser gozado, mas nada recomendável!

 A diferença básica entre as duas era a refrigeração líquida da Kawazaki e a ar da Yamaha. Não fazia diferença nas viagens, mas poderia ser problema em caso de furos acidentais no radiador ou ruptura de mangueiras da refrigeração líquida.
A pequena diferença da cilindrada também não era perceptível no uso normal (595 cc da Yamaha e 651 cc da Kawazaki). Havia também mais uma diferença entre as duas, a Kawazaki dispunha de freios à disco na dianteira e na traseira e a Yamaha à disco só na dianteira. Na traseira usava ainda o velho sistema de tambor que era regulado esporadicamente girando aquela pequena borboleta da haste que nossos avós chamavam de “varão”.

 O que fazia diferença mesmo era o consumo. Muito provavelmente pela qualidade e octanagem do combustível que usei nas duas, a Kawazaki, nas mesmas condições de carga e velocidade, era mais econômica. A taxa de compressão (8,5:1 na Yamaha adequada a gasolina do Brasil e 9,5:1 na Kawazaki para o mercado norte americano) um pouco maior na Kawazaki e a qualidade e octanagem da gasolina americana devia ser o diferencial para o menor consumo apesar da maior cilindrada da Kawazaki.
Mas vamos ao que interessava e ainda interessa pra nós simples mortais, o prazer da pilotagem.

 O visual da Tenere me agradava mais, aquele tanque de combustível mais no estilo Paris-Dakar deixava a moto mais bonita, mas o prazer de pilotar e a segurança transmitida nos diversos tipos de piso era muito semelhante e aquela sensação de quero mais depois de um longo dia de viagem era igual nas duas.


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