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Em 1949 quatro jovens motociclistas paulistas resolveram conhecer o Chile montados nas suas reluzentes Triumph 500 cc . Um dos participantes conhecia o Dr. Ademar de Barros, Interventor do Estado de São Paulo, e por isso fizeram a largada simbólica da viagem no Palácio do Governo nos Campos Elísios depois de pegar uma carta de apresentação para o “Presidente” Perón.
Nesta carta o governador de São Paulo apresentava os motociclistas como os Bandeirantes do Século XX para seu amigo, o “Presidente” da Argentina Juan Domingo Perón.
Meu pai sempre dizia que na época o asfalto acabava no fim da Av. Rebouças e como não pôde treinar muito antes da viagem devido aos problemas de saúde da sua mãe, levou pelo menos um tombo por dia até chegar no Uruguai. Atravessando a fronteira no Chui as estradas concretadas estavam muito bem conservadas.
No Rio Grande do Sul o único caminho era pela praia em quase todo percurso e as paisagens no Parana e Santa Catarina eram de tirar o folego e a atenção de qualquer piloto, justificativa para a compra de tanto terreno nos primeiros dias da viagem.
Ao chegar num acampamento cigano no Rio Grande do Sul estranharam a presença somente de mulheres, crianças e idosos e enquanto atiravam moedas pra alegria da garotada um dos participantes resolveu “ler a mão” na tenda de uma jovem e bela cigana. Depois de alguns minutos, detrás de uma pequena elevação ao lado do acampamento, começaram aparecer os ciganos empunhando seus facões e foi o tempo de chamar o companheiro na tenda pra deixar o local às pressas. O amigo nem teve tempo de saber seu futuro. Outras passagens interessantes da viagem como a perda do rumo do meu pai depois de um tombo em que levantou rápido pra evitar a gozação dos companheiros e continuou no rumo contrário e a travessia de uma ponte quebrada que só tinha uma tábua de pedestres por onde decidiram atravessar só que pelados pra não molhar as roupas em caso de queda no riacho. Ninguém caiu mas fico imaginando a cena.
Foram muito bem recebidos pelo povo, imprensa e autoridades Uruguaias com direito a recepção oficial no Palácio do Governo.
Ao tentar embarcar as motos para a travessia da Bacia do Prata os fiscais da aduana Argentina pediram o Tríptico, uma espécie de carta de fiança na qual os proprietários se comprometiam a não vender seus veículos no país. Era a nossa conhecida Guia de Importação Temporária dos dias atuais.
Sem o Tríptico não entrava mesmo e nem adiantou mostrar a carta do Ademar.
Deixaram as motos no porto uruguaio e atravessaram a Bacia do Prata com o propósito de conseguir um salvo conduto do presidente Argentino pra poder atravessar seu país e chegar ao Chile.
Empolgados com as belezas da capital Portenha foram para a Casa Rosada, sede do governo, pra mostrar a carta de apresentação do Ademar ao presidente e pedir a autorização para entrar com as motos na Argentina. Começaram tirar as fotos de praxe da bela praça do Palácio e não deu outra; foram detidos por policiais impecavelmente uniformizados e na delegacia tiveram seus filmes confiscados e o pior de tudo, nem conseguiram chegar perto do presidente. O jeito foi embarcar as motos no Uruguai e voltar de navio para o Brasil, agora com a bronca contra o “Hermanos Portenhos” bastante aumentada
Lembro como se fosse hoje dos treinos que meu pai fazia lá pras bandas da Cidade Ademar, na Cupecê, próximo ao Aeroporto de Congonhas me levando sentado no tanque da sua Triumph bordô, igualzinha a da foto.
Como médico, Dr Décio não sabe dizer se o motociclismo é uma doença hereditária ou se pegou o vírus ao andar no tanque da moto do pai, uma Triumph 500, aos 7 anos de idade, quando ele e mais três amigos, em 1949 se preparavam pra ir até a Argentina. Foi um dos fundadores da pioneira equipe de enduro “Alice no pais das trilhas”. É um motociclista de mão cheia, daqueles que, ainda hoje em dia, encara o transito de SP em sua BMW GS1250 diariamente, é também um aventureiro de primeira linha, cruzou a transamazônica em algumas ocasiões, em 1983, 1988, foi ao México, USA, Alasca, praticamente toda América do Sul…em cima de uma motocicleta. Liderou alguns passeios de eventura pela Off Rush com as KTM e ha alguns anos organiza os passeios do Caltabiano Moto Club com as BMW
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Décio essa aventura é incrível! Só de imaginar que 90% do percurso era por estradas de terra!!!! Loucura! Hoje conseguimos fazer SP – Montevideo em 2 dias de viagem, já naqueles tempos….
Décio essa aventura é incrível! Só de imaginar que 90% do percurso era por estradas de terra!!!! Loucura! Hoje conseguimos fazer SP – Montevideo em 2 dias de viagem, já naqueles tempos….
Décio essa aventura é incrível! Só de imaginar que 90% do percurso era por estradas de terra!!!! Loucura! Hoje conseguimos fazer SP – Montevideo em 2 dias de viagem, já naqueles tempos….
Heróis.
Heróis.
Diego, em 97 fomos pra Ushuaia com duas Super Ténéré e resolvemos conhecer um pequeno trecho da viagem do meu pai em 49 de Mostardas a Rio Grande pela praia por fora da Lagoa dos Patos. Fiquei imaginando as dificuldades que tiveram naquela viagem mas o prazer deve ter sido o mesmo. Isto não muda com o tempo.
Diego, em 97 fomos pra Ushuaia com duas Super Ténéré e resolvemos conhecer um pequeno trecho da viagem do meu pai em 49 de Mostardas a Rio Grande pela praia por fora da Lagoa dos Patos. Fiquei imaginando as dificuldades que tiveram naquela viagem mas o prazer deve ter sido o mesmo. Isto não muda com o tempo.
Diego, em 97 fomos pra Ushuaia com duas Super Ténéré e resolvemos conhecer um pequeno trecho da viagem do meu pai em 49 de Mostardas a Rio Grande pela praia por fora da Lagoa dos Patos. Fiquei imaginando as dificuldades que tiveram naquela viagem mas o prazer deve ter sido o mesmo. Isto não muda com o tempo.