O caminhão é o navio da estrada
Existem regras no mar
Há mais de 10 anos eu navego, tirei meu Arrais Amador, licença para conduzir embarcações. Já naveguei em represas e também no mar aberto. Apesar da vastidão dos mares e oceanos lá existem regras interessantes que orientam a convivência entre diferentes barcos.
Motor x Vela
Quando um veleiro e um barco a motor se encontram, o veleiro, por ter uma mobilidade reduzida, tem a preferência. Cabe ao comandante do barco a motor reduzir a velocidade ou fazer a manobra necessária para esquivar-se. Educadamente, sem deixar grandes marolas.
Vela x Remo
Já quando o mesmo veleiro se encontra com um barco a remo, o barco a remo tem a preferência. Parece obvio não é mesmo?
Vela x Navio
Mas e quando o veleiro se encontra com um navio em um canal? Bem, ai a preferência máxima é do navio. Quem já viu um “monstro” desses de perto se lembra como é enorme, e assim sendo, pode imaginar como é difícil, apesar de ter motor, fazer uma manobra qualquer que altere seu rumo ou mesmo sua parada.
Motor x Motor
Quando dois barcos a motor se encontram, também devem obedecer regras específicas para esse tipo de situação. Elas dependem do bordo (ou lado) que se aproximam. Mas, não vamos nos aprofundar nisso, importante é entender que essa convivência, regrada, tende a ser pacífica.
O Navio das estradas
Eu não entendia bem os caminhoneiros, achava que eram “folgados” pois “podavam”, te dando uma espremida vez ou outra. E de fato, no trânsito (e na vida), independente do veículo utilizado, existem sempre os sem educação e sem noção. Gente que, de carro, moto ou caminhão e até quando pedestre, é abusado, mal educado e não respeita ninguém. Mas não podemos sair na rua achando que todos são assim, afinal, “todos são inocentes até que se prove o contrário” não é mesmo?
Uma experiência “do Peru”!!
Pois bem, disse que não entendia bem os caminhoneiros, mas agora entendo, e vou explicar. Em 2005, por razões que a própria razão desconhece, sai de casa pra viajar com meu jipe Troller pela Amazônia e Cordilheira Peruana. O bicho quebrou (feio), tive que voltar, dois meses depois – de carona com carreteiros – quem quiser depois ler essa historia, basta clicar aqui.
É quando a coisa complica que a aventura começa, e nesses nove dias e quase 5.000 km rodados com a frota de carretas, senti na pele como é viajar na boleia. Conversei com os caras, entendi suas necessidades, vivenciei a dinâmica do caminhão, a limitadíssima visibilidade que se tem “lá de cima”. Para eles as subidas são grandes dificuldades e percebi como é difícil vida de quem viaja longos quilômetros, horas e horas, longe da família por estradas que “até Deus duvida”.
Em resumo, fiquei nove dias sem banho, comendo comida preparada ali no fogão do caminhão, dormindo sobre os dois assentos dianteiros, apoiado em uma mochila, enfim, pro aventureiro é um prato cheio, são historias que não acabam, mais, mas pra quem faz disso seu dia a dia, a carga é realmente pesada.
O Respeito
Como resultado dessa experiência, passei a enxergá-los de outra forma, sendo mais camarada, mais tolerante – abrindo espaço pro caminhão entrar quando começa a serra, pela simples razão que, depois que ele voltar pra faixa da direita, eu retomo a velocidade em segundos com a minha moto, até mesmo quebrando a monotonia da velocidade constante.
Tem algo errado!
Amamos o motociclismo de boa qualidade, nosso lema é “motociclismo à moda antiga” e honramos isso, jamais publicando algo negativo em relação a esse veículo maravilhoso, que tanto prazer pode nos proporcionar. Em meu WhatsApp particular, sempre que recebo alguma daquelas cenas absurdas de acidentes com motos eu deleto (as imagens) e peço pra pessoa por gentileza não encaminhar mais.
Mas dessa vez não deu pra passar em branco, de alguma forma havia que gritar – TEM COISA ERRADA AI GENTE!!!
Na semana que passou, todos fomos surpreendidos por uma imagem que circulou nas redes sociais, de cara eu imaginei ser mais uma montagem de photoshop, mais uma fakenews… Mas infelizmente não era.
Uma cena absolutamente chocante, a moto engatada na frente da carreta e o motociclista pendurado no espelho retrovisor do caminhão.
Imagem que esperamos não ver nunca mais! Acidentes acontecem – mas arrastar uma motocicleta assim por 30 km – beira – ou ultrapassa – os limites da loucura!
Como assim? Tá defendendo? Pirou?
Parece coisa de maluco mesmo, em site de apaixonados por motocicletas, o cara “defendendo” o caminhoneiro. Não, não, nada disso! Só realmente até aqui, eu pensava em mostrar pra você, leitor, o outro lado – e é muito legal saber que tudo tem dois lados não é mesmo?
Os caminhoneiros que eu passei a respeitar depois da minha aventura pelos Andes, são os de verdade, não os “sem noção e sem educação”. Essa turma, seja de moto, carro, caminhão, caminhando pela rua – como for, não merece respeito nem consideração. São pessoas que devem ser afastadas da sociedade até que consigam compreender e respeitar o mundo. E, ao que parece, pelas notícias que recebemos e reportagens que vimos, o caso do motociclista Anderson Pereira e sua esposa Sandra Pereira, de Santa Catarina, foi um desses. Segundo reportagem divulgada pela TV Globo, no programa Fantástico desta semana, há uma forte suspeita de uso de cocaína pelo caminhoneiro, pois a droga foi encontrada no interior da cabine.
Histórias não faltam
Podemos citar aqui diversos casos, de motociclistas que, embriagados, sob efeito de drogas ou até mesmo sóbrios, causaram acidentes, atropelamentos, mortes. Volto ao paragrafo anterior, os “caras sem noção e sem educação” não se enquadram em nenhuma das categorias, não são motociclistas, nem caminhoneiros, nem motoristas. O jornalista Cícero Lima, postou tempos atrás aqui, talvez um pressagio, ou apenas uma realidade, sobre isso. Por outro lado, nosso colunista e aventureiro Décio kerr, conta uma historia em que foi salvo… justamente pelo caminhoneiro. Já em outro momento, viajando pelo Peru via Acre, o mesmo amigo Décio, foi atingido por um automóvel, por trás, cujo motorista estava alcoolizado.
O mundo binário
O alerta mesmo, a reflexão, fica em torno do mundo binário em que vivemos. Todos são colocados constantemente contra todos, o motociclista contra o motorista, os pobres contra os ricos, as mulheres contra os homens, o patrão contra os funcionários… Caminhoneiro contra o motorista, ou motociclista no caso.
Motos Clássicas 80 quer deixar apenas uma mensagem de paz
Se você leu até aqui esperando ouvir a nossa opinião ou julgamento, conclusão ou coisa assim, desculpe desapontá-lo. Não há aqui espaço pra julgar, tomar lado, tomar partido, pois assim estaríamos simplesmente dando continuidade a essa corrente binária que insiste em nos dividir. Vamos apenas, ao final do texto, deixar uma mensagem de força pro irmão motociclista Anderson Pereira, que perdeu a esposa, que encontre força pra seguir em frente.
Os motociclistas nunca morrem de verdade, eles apenas “motocam” nas nuvens, quando você olhar para o céu hoje, sorria porque eles estão lá.
fonte: www.steelcowgirl.com
Aos 51 anos, Diego completa 38 intensos anos de motociclismo! Colecionador detalhista e aficionado por motos clássicas, principalmente as dos anos 1980. Ultrapassando a marca do 1.000.000 de km rodados – Seja como piloto de testes da revista Duas Rodas, aventurando-se pelo mundo em viagens épicas e solitárias em motos super-esportivas ou quebrando recordes de distancia e resistência sobre a motocicleta onde conquistou 18 certificados internacionais “IronButt”.
Parabéns !!
Excelente matéria !
Infelizmente ainda trafegamos em ruas e estradas onde mais da metade dos motoristas de motos carros caminhões NÃO têm habilitação !!!
Seja rodovias ou dentro das cidades !!
Por isso MTS destes acidentes acontecem !!!