A Honda XLR 125 de R$ 62.000,00 (ou 25 cabeças de gado)
A moto servindo a família e trabalhando de sol a sol.
Para o retireiro de leite e pedreiro Gilmar Alves, 48, anos, a vida nunca foi fácil. Acordar três da manhã, ordenhar as vacas e entregar diariamente cerca de 200 litros de leite era uma rotina diária. Não havia carro moto nem moto na garagem, apenas uma bicicleta.
Em 2002 ele trocou 25 bezerros por uma Honda XLR 125, ano 2001, e ganhou uma companheira que iria acompanhá-lo no trabalho por duas décadas. “Na época, cada bezerro valia R$ 200 e a moto R$ 4.000”. Hoje os 25 bezerros valem R$ 62.500, lembra o pai que ainda refina a conta dizendo que a arroba do gado custava R$ 37,00 e hoje está R$ 300,00. Mas ele concluiu que valeu a pena, para mim ela vale mais de R$ 80 mil!
Quem nos contou essa história, cheio de orgulho, foi o arquiteto Mike Dionatas Costa Alves que já andou muito naquela moto. “Ela fazia parte da nossa vida, aquela carretinha puxava leite, cana, soro de leite” lembra que a rotina do pai é regada a sacrifício “depois de entregar o leite na cidade, ia trabalhar como pedreiro, ele tinha uma vida muito puxada, chegava a trabalhar 15 horas por dia”.
Seu Gilmar trabalhava de sol a sol, enquanto o pequeno motor da Honda XLR 125 esgoelava para entregar seus parcos 12 cv de potência. Mas nunca deixava o dono na mão. “Já nem lembro quantas vezes fizemos o motor, a moto rodava demais, não tinha sossego e sempre com muito peso, eu e meu irmão Mateus, íamos para buscar cana, soro, etc..”.
Um milhão de quilômetros
Mike lembra ainda que na carreta o pai improvisou um pequeno sofá na carreta e transportava toda a família. Essa era a rotina dessa “Xzilinha”, na pequena Porto Esperidião, a 320 km de Cuiabá, Mato Grosso.
Mas a rotina do seu Gilmar iria mudar. Em 2014 ele abandonou a produção de leite e passou a dedicar mais ao ramo de construção. Mike mudou para Tangara da Serra (MS) e cursou a faculdade de arquitetura. A moto ainda ficou na família, sempre fazendo trilhas e servindo de “pau para toda obra”.
“Aos poucos meu pai foi tendo sucesso no ramo de construção e começou a dar certo e finalmente a sorte sorriu para nós” afirma o filho orgulhoso.
A leiteira
Conversei com o Mike ele sobre a importância da moto na família e soube que o pai é apaixonado pela Xzelinha. Deu para a moto o apelido de Leiteira e reconhece o valor da motocicleta para o sucesso da família. “Nossa meu pai é fissurado naquela moto, já quiseram comprar, mas ele nem pensa em se desfazer”.
Mike não consegue precisar o quanto a moto já rodou, mas estima que pode ter passado de um milhão de quilômetros. “Foram muitos anos, rodando todo dia pelo menos 200 km, no fim do mês já tinha percorrido mais de 6.000 km”. Nesse infinito vai e vem, puxando carga (e até a família) foram vários concertos para continuar na ativa “uma vez o quadro abriu, teve que ser soldado, e a motinha continuou rodando, dependíamos dela para tudo” lembra o filho do sitiante.
Hora da reforma
Agora um pouco mais tranquilo chegou a hora da família reconhecer o valor da moto e dar um presente para o pai. Mike encontrou um bom profissional, chamado Michel Garcia, que se encarregou da restauração que ela merece. “Foram 90 dias de busca de peças, a maioria comprada no Mercado Livre. Michel trabalhava após o expediente aqui no quintal de casa, da velha XL só restou o quadro, carcaça do motor e cubos da roda. O resto foi substituído”.
No Natal de 2020 foi a vez de presentear o pai com a XLR 125 reformada. Ela é um símbolo para a família e mostra que com sacrifico e dedicação é possível conquistar muitas coisas. Essa é uma homenagem do Motosclassicas80 ao Mike e sua família que “agora colhe todo sucesso de uma vida de muitas batalhas”.
Jornalista Especializado em veículos e mobilidade. Editou a revista Duas Rodas, foi colunista do portal UOL e criou publicações como Revista Ordem de Serviço e edita atualmente a revista MotoEscola.
Linda história e merece a restauração mesmo.
Que bacana, todas as motos tem suas histórias, algumas comicas, outras trágicas, mas sempre nos deixam saudosos dos bons tempos juntos…
Parabéns a família que soube usar e agora guardar essa preciosidade…
Que delícia de história .
Como essa são milhares pelo país e pêlo mundo .
Parabéns a família por ter recuperado a xlr 125 e a Honda por durante décadas ter mantido sempre um alto padrão de qualidade nos seus produtos .
Ola bom dia poderia me mandar o endereço ou o telefone desse profissional que reformou sua moto , tenho tambem uma dela de 2002 presente do meu pai quero reforma ela tambem..